O que a valorização da comida de verdade tem a ver com a MPB?
Tudo! A história da música brasileira tem muitos capítulos destinados à cultura alimentar: a receita de acarajé de Dorival Caymmi, botar água no feijão, com Chico Buarque, o jambu que faz tremer, de Dona Onete, ou o arroz a carreteiro na voz de Mariângela Zan. E a lista não acabaria hoje!

Só que Música Popular Nutritiva (MPN), essa só tem uma. A criadora deste estilo musical é a nutricionista e musicista mineira Tânia Bicalho, integrante do núcleo da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável em Minas Gerais. Graduada em letras, Tânia já trabalhava com MPB, gravando músicas e realizando shows Brasil afora, quando voltou para uma segunda graduação, na faculdade de nutrição. Foi aí que adicionou ingredientes no seu repertório, e como trabalho final de conclusão de curso, gravou um CD com 13 músicas que valorizam a comida de verdade: estava fundada a MPN – Música Popular Nutritiva. 

Que tal carne com salsa – o gênero musical? Ou músicas que falam de menos sal na comida, homenagem ao milho (e seus milhares de usos!) e aos fãs das maçãs? No caldeirão também entram músicas sobre dietas restritivas e efeito sanfona, e que ajudam a desconstruir falsas percepções: carboidrato não é inimigo não! As músicas do MPN vem embalando shows e encontros em todo o Brasil há 10 anos. E recentemente, Tânia lançou o Gastronomúsica, uma espécie de show audiovisual no Youtube que combina conversa com o público sobre alimentação saudável e músicas nutritivas, confira aqui. Ou acesse apenas as músicas, nesse outro link.

Audiovisual como estratégia narrativa

Além de musicista, nutricionista e ativista, Tânia é pesquisadora, e concluiu este ano sua dissertação de mestrado (clique aqui para baixar em PDF) em Comunicação e Sociedade, abordando o tema da nutrição, gastronomia e saúde como produtos de comunicação audiovisual pela Universidade Federal de Juiz de Fora. O estudo analisa 32 episódios que compõem a série Rita, Help! Me ensina a  cozinhar na Quarentena! gravada e produzida em 2020. A pesquisadora mostra como ocorre a atuação dos alimentos – e seu eventual protagonismo – na dramaturgia da alimentação realizada na série, e o trabalho de mestrado envolveu pesquisa bibliográfica  com diálogos interdisciplinares entre estudos de mídia, audiovisual, nutrição, saúde,  gastronomia, identidade e cultura alimentar brasileira. 

“Os hábitos alimentares de brasileiros que têm acesso à TV paga e outros meios  de comunicação são frequentemente atravessados por modismos, publicidades, necessidade de corresponder às expectativas de determinados grupos, padronização física socialmente imposta etc”, afirma Tânia. “Observando a página da chef/apresentadora no Instagram, constatei que o público a quem Rita Lobo se dirige é  constituído por pessoas de diferentes profissões, como professores, pesquisadores de  diversas áreas, políticos, jornalistas, artistas, influenciadores digitais etc. Portanto,  muitos são formadores de opinião e multiplicadores de informações que podem  contribuir para a valorização da alimentação adequada e saudável”, conclui.

E os próximos passos? Tânia está trabalhando para que a dissertação de mestrado se transforme em livro e em músicas, com objetivo de levar informações sobre a importância da alimentação  adequada e saudável, de forma lúdica, ao maior número de pessoas possível. É a nossa torcida! Para saber mais novidades, acompanhe o Música Popular Nutritiva no Instagram.