31/10/2022 - Biblioteca Publicações - Agroecologia
Para avançar no tratamento da questão, organizações e redes vinculadas à Articulação Nacional de Agroecologia vêm adotando com sucesso o método da sistematização das realidades nas quais as desigualdades de gênero na agricultura familiar se expressam. Ao explorarem esse caminho metodológico, as entidades envolvidas nesses esforços procuram analisar as condições que favorecem e/ou bloqueiam as mudanças nas relações entre homens e mulheres nos ambientes sociais influenciados por suas ações. Ao mesmo tempo, esses exercícios têm tido o mérito de motivar famílias e lideranças da agricultura familiar a se engajarem no processo de produção de conhecimentos sobre suas próprias práticas de gênero. Evitam-se, assim, formulações generalizantes sobre tema que, no mais das vezes, não encontram correspondência na realidade específica percebida por aquelas que sofrem mais diretamente com as desigualdades.
Um dos principais aspectos ressaltados nas sistematizações tem sido a relevância das mulheres como provedoras das economias de suas famílias e comunidades. Esse desocultamento do trabalho feminino e do seu papel decisivo para a sustentabilidade da agricultura familiar camponesa vem criando condições favoráveis para que a separação arbitrária entre as esferas da produção e da reprodução econômica seja questionada, desmistificando a convencional divisão sexual do trabalho, que reserva o espaço doméstico às mulheres enquanto os homens se ocupam do domínio do público. Na evolução desses exercícios de análise coletiva da realidade, a dominação masculina sobre os núcleos familiares e sobre as organizações é desnaturalizada e passa a ser percebida como o resultado de construções sociais sujeitas a questionamentos e transformações promovidas pela ação política das mulheres. Os artigos publicados nesta edição trazem ricas narrativas dessas dinâmicas sociais em que a transição agroecológica é também compreendida como caminho para o empoderamento das mulheres.