05/01/2021 - Blog Notícias
Outubro de 2016, Porto Alegre, Congresso Brasileiro de Nutrição.
Ali era lançada a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável em um estande colorido e animado por um jogo de perguntas e respostas, enquanto em outra sala acontecia um debate sobre o papel das políticas públicas na garantia do direito à alimentação adequada e saudável. Comer é um ato político virou nosso slogan, e estampava adesivos distribuídos no evento. Éramos 22 organizações, muita energia, desejos para o bem comum, e dúvidas também: qual nosso potencial frente aos desafios para a realização do direito à alimentação adequada e saudável para todos e todas? O que podemos fazer juntos, o que podemos ser?
Realizações, descobertas e desafios
Hoje somos 68 organizações e mais de 286 ativistas. E lá se vão quatro anos de realizações, descobertas, novas dúvidas e desafios, e novas respostas também, numa dança que combina nosso desenvolvimento interno, como rede de diálogo com o contexto político e social, e também articulação com outras organizações e redes parceiras. Neste período, temos vivenciado anos conturbados no cenário político nacional, de rupturas, incertezas e retrocessos em políticas públicas. Apesar das tempestades, unimos forças, construímos pontes, identificamos soluções, cuidamos e fortalecemos aquilo que precisa ser garantido, mapeamos riscos e combatemos o que ameaça a saúde, adoece e mata.
Ao longo deste período, formulamos e amadurecemos os 10 temas de nossa agenda de atuação. Reconhecemos que não incidimos de maneira igual em todos eles, há muito o que avançar, mas compreendemos que essa agenda é nossa ferramenta de diálogo de diferentes organizações e campos de ação. Nessa trajetória de cotidianamente fazer a Aliança mais real, nos articulamos com diferentes atores sociais, fóruns, redes, associações e coletivos. Fortalecemos temas que vão da água ao aleitamento. Nosso exercício é de soma.
Núcleos locais da Aliança
Ao longo destes quatro anos, temos cultivado nossas sementes e visto florescer os núcleos locais da Aliança, que aprofundam nossa capacidade de escuta, compreensão e atuação diante dos desafios locais que a agenda de segurança alimentar e nutricional nos apresenta. Assumimos sotaques, diversificamos nossos repertórios, conhecemos novos alimentos e músicas, outras expressões de injustiças e desafios também.
Nos capilarizamos para ampliarmos nossa presença mas continuamos cuidando do nosso centro. Em 2020, publicamos nosso documento de governança e estabelecemos um núcleo gestor ampliado que reúne a representação dos núcleos nacional e locais. Nesse caminho de ser Aliança, experimentamos novas formas de nos organizar, interagir e incidir sobre os processos políticos que influenciam nossas vidas, mas atentas às maneiras e modos como se dão nossa ação no mundo, em constante reflexão e atualização sobre nosso agir a partir dos princípios que adotamos. Para nós os meios condicionam os fins.
Contexto político e desmonte de políticas públicas
E, mesmo em um momento político adverso, de desmonte de políticas públicas e de violações de direitos, atuamos para convocar o Estado para o seu papel no avanço de políticas públicas para a garantia da segurança alimentar e nutricional e da Soberania Alimentar no Brasil. Mantivemos a pauta da agenda regulatória, fomos pedra no sapato de interesses corporativos que atuam contra a saúde da população, das indústrias de alimentos ultraprocessados, dos conglomerados do agronegócio, pautamos a rotulagem frontal de advertência e a tributação de bebidas adoçadas com a doçura das tendas da rotulagem e da felicidade, e várias outras ações de incidência política. Participamos dos Banquetaços em defesa do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional e da luta pela regulação da lei das cantinas escolares em Minas Gerais. Erguemos nossa voz em defesa do Guia Alimentar para a População Brasileira, pela valorização do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e das políticas de incentivo aos agricultores familiares, feiras agroecológicas, restaurantes populares e políticas de valorização do aleitamento materno. Durante as campanhas eleitorais e como compromisso com o aprimoramento da democracia, levamos nossas pautas às candidaturas à presidência da república, governos estaduais e municipais, e câmaras legislativas.
E agora, José?
E em 2020, chegamos aos nossos quatro anos de existência. A realidade não está nada fácil, mas somos resilientes, brincantes no campo, cidades, águas e florestas, e temos uma capacidade de sonhar que desafia o desânimo e a visão de futuro como trágico e imutável. Não é! Junto a muitas e muitos construímos o amanhã, aqui e agora. Produzindo pensamento – reflexão – ação. Espalhamos o convite para que este ato tão cotidiano e aparentemente individual, do comer, seja visto como peça fundamental de um sistema alimentar que conecte a todos nós, e que pode, sim, ser mudado. No lugar de riqueza na mão de poucos, desigualdade, devastação e morte, vamos na direção de mais direitos, bem-viver e saúde. Nós sabemos nosso lugar. E de presente de aniversário, queremos festa. Queremos ter uns aos outros neste grande abraço que vem nos unindo há quatro anos, queremos estar cada vez mais juntas e juntos, cada vez melhores, e sermos cada vez mais tudo aquilo que podemos ser.
Um viva para nós, Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável!