No começo de 2022, o Ministério Público do Trabalho encontrou 271 homens e mulheres em condição de trabalho escravo, em fazendas de cana-de-açúcar no interior de Minas Gerais. Essas pessoas viviam em alojamentos insalubres e superlotados. Não tinham banheiro, água potável e local para se alimentar. Foi o maior resgate de trabalhadores escravos dos últimos dez anos. Revelou a ponta de um iceberg que abrange diversas regiões brasileiras: as dramáticas condições das pessoas aliciadas para trabalhar em propriedades vinculadas aos grandes conglomerados do setor de alimentos.

O livro “O Sabor do Açúcar” mostra, com exclusividade, que os crimes atualmente praticados nestas fazendas estão vinculados à maior cadeia produtiva de açúcar do mundo, controlada pela Coca-Cola e pelos quatro principais operadores globais de commodities agrícolas, o chamado grupo ABCD: Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company.  De autoria da Papel Social, agência de jornalismo investigativo, com apoio da ACT Promoção da Saúde, o livro está disponível gratuitamente, clique aqui para acessar e fazer o download.

Após dois anos de investigação, dezenas de entrevistas e milhares de páginas analisadas, são demonstrados os elos que vinculam as empresas acima citadas aos seguintes crimes: trabalho escravo, invasão de terras indígenas, contaminação ambiental, grilagem de terras, desmatamento, fraudes tributárias, intoxicação de trabalhadores por agrotóxicos.

O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar. O produto está vinculado ao país desde os primórdios da colonização. Ainda hoje, apesar de avanços importantes, sua obtenção está ligada a violações de direitos, trabalho escravo, uso indevido de agrotóxicos e desmatamento. A investigação mostra que a cadeia produtiva do açúcar está vinculada a um modelo insustentável e violento, objetivando a produção de alimentos baratos, viciantes e altamente rentáveis às grandes corporações. Com uma boa dose de malefícios à saúde humana.

Do ponto de vista econômico, é insumo determinante na atual configuração da indústria alimentícia, que produz grande parte dos seus produtos com altas doses de açúcar, sódio e gordura. As maiores empresas produtoras de alimentos do mundo têm o açúcar como elemento basilar das suas formas de produzir e gerar dividendos, inclusive em aspectos danosos à saúde humana.

Veja alguns dos casos reunidos e apresentados pelo livro:

Maior resgate de trabalho escravo dos últimos 10 anos

Fazendas operadas pela WD Agroindustrial, flagrada com 271 homens e mulheres em regime de trabalho escravo em janeiro de 2022, exporta para 28 países. Dentre as empresas destinatárias está a Louis Dreyfus, do grupo ABCD, que entrega o produto para a Coca-Cola.

Invasão de terras indígenas, fraudes, desmatamento e contaminação por agrotóxicos:

      • Crimes identificados em usinas da Biosev, empresa controlada pela Louis Dreyfus, acima citada por envolvimento em trabalho escravo.

      • O açúcar da Dreyfus abastece fábricas da Coca-Cola no Brasil e em diversos países.

Contaminação de pessoas e animais, violação do Estatuto da Terra, invasão de terras da União e áreas indígenas:

      • Crimes identificados na empresa Raízem, a maior processadora de cana-de-açúcar do mundo e que no Brasil tem 26 usinas;

      • A Raízem, fornecedora da Coca-Cola, é controlada pelas multinacionais Shell e Cosan.

Escravização de indígenas:

      • A empresa Atvos, fornecedora da Coca-Cola e controlada pelo grupo Odebrecht, está envolvida na escravização de indígenas no Mato Grosso do Sul.

Apropriação de créditos tributários, contaminação ambiental, ameaça à sobrevivência de agricultores familiares e à soberania alimentar:

      • Crimes associados a empresa BP Bunge, fornecedora da Coca-Cola e controlada por Bunge e British Petroleum.

Invasão de áreas de preservação, expulsão de comunidades tradicionais, poluição de manguezais, violência de gênero, ameaça, cárcere privado, tortura:

      • Envolvida nos crimes acima, a Usina Trapiche é uma das principais fornecedoras da Coca-Cola na região Nordeste do Brasil.

Crimes ambientais e morte de trabalhadores:

      • Usina Barralcool, que está entre os maiores fornecedores da Coca-Cola na região Sudeste.

Trabalho escravo:

    • Ocorrência registrada na cadeia produtiva da Usina Itamarati, uma das principais fornecedoras de açúcar para a Coca-Cola no Brasil.

Grilagem de terras, queimadas, fraudes tributárias, invasão de terras indígenas e expulsão de comunidades:

      • Ocorrências identificadas na cadeia produtiva da Usina Jayoro, fornecedora do açúcar usado para a fabricação do xarope da Coca-Cola.

Fraude tributária:

      • Ocorrências registradas na cadeia produtiva da Recofarma e da Femsa, empresas do Grupo Coca-Cola;

      • A Femsa também está envolvida em trabalho escravo em suas próprias unidades.

Manobras fiscais:

      • Estima-se em R$ 3 bilhões anuais o total que a cadeia produtiva da Coca-Cola deixa de pagar de impostos a cada ano, graças a artimanhas tributárias e manobras fiscais realizadas por empresas do grupo.

As ocorrências listadas acima estão detalhadas ao longo do livro, com as respectivas fontes onde foram obtidas e, posteriormente, checadas. Acesse “O sabor do açúcar” em: bit.ly/LivroSaborDoAcucar