03/05/2022 - Blog Notícias
No começo de 2022, o Ministério Público do Trabalho encontrou 271 homens e mulheres em condição de trabalho escravo, em fazendas de cana-de-açúcar no interior de Minas Gerais. Essas pessoas viviam em alojamentos insalubres e superlotados. Não tinham banheiro, água potável e local para se alimentar. Foi o maior resgate de trabalhadores escravos dos últimos dez anos. Revelou a ponta de um iceberg que abrange diversas regiões brasileiras: as dramáticas condições das pessoas aliciadas para trabalhar em propriedades vinculadas aos grandes conglomerados do setor de alimentos.
O livro “O Sabor do Açúcar” mostra, com exclusividade, que os crimes atualmente praticados nestas fazendas estão vinculados à maior cadeia produtiva de açúcar do mundo, controlada pela Coca-Cola e pelos quatro principais operadores globais de commodities agrícolas, o chamado grupo ABCD: Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company. De autoria da Papel Social, agência de jornalismo investigativo, com apoio da ACT Promoção da Saúde, o livro está disponível gratuitamente, clique aqui para acessar e fazer o download.
Após dois anos de investigação, dezenas de entrevistas e milhares de páginas analisadas, são demonstrados os elos que vinculam as empresas acima citadas aos seguintes crimes: trabalho escravo, invasão de terras indígenas, contaminação ambiental, grilagem de terras, desmatamento, fraudes tributárias, intoxicação de trabalhadores por agrotóxicos.
O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar. O produto está vinculado ao país desde os primórdios da colonização. Ainda hoje, apesar de avanços importantes, sua obtenção está ligada a violações de direitos, trabalho escravo, uso indevido de agrotóxicos e desmatamento. A investigação mostra que a cadeia produtiva do açúcar está vinculada a um modelo insustentável e violento, objetivando a produção de alimentos baratos, viciantes e altamente rentáveis às grandes corporações. Com uma boa dose de malefícios à saúde humana.
Do ponto de vista econômico, é insumo determinante na atual configuração da indústria alimentícia, que produz grande parte dos seus produtos com altas doses de açúcar, sódio e gordura. As maiores empresas produtoras de alimentos do mundo têm o açúcar como elemento basilar das suas formas de produzir e gerar dividendos, inclusive em aspectos danosos à saúde humana.
Veja alguns dos casos reunidos e apresentados pelo livro:
Maior resgate de trabalho escravo dos últimos 10 anos
Fazendas operadas pela WD Agroindustrial, flagrada com 271 homens e mulheres em regime de trabalho escravo em janeiro de 2022, exporta para 28 países. Dentre as empresas destinatárias está a Louis Dreyfus, do grupo ABCD, que entrega o produto para a Coca-Cola.
Invasão de terras indígenas, fraudes, desmatamento e contaminação por agrotóxicos:
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Crimes identificados em usinas da Biosev, empresa controlada pela Louis Dreyfus, acima citada por envolvimento em trabalho escravo.
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O açúcar da Dreyfus abastece fábricas da Coca-Cola no Brasil e em diversos países.
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Contaminação de pessoas e animais, violação do Estatuto da Terra, invasão de terras da União e áreas indígenas:
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Crimes identificados na empresa Raízem, a maior processadora de cana-de-açúcar do mundo e que no Brasil tem 26 usinas;
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A Raízem, fornecedora da Coca-Cola, é controlada pelas multinacionais Shell e Cosan.
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Escravização de indígenas:
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A empresa Atvos, fornecedora da Coca-Cola e controlada pelo grupo Odebrecht, está envolvida na escravização de indígenas no Mato Grosso do Sul.
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Apropriação de créditos tributários, contaminação ambiental, ameaça à sobrevivência de agricultores familiares e à soberania alimentar:
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Crimes associados a empresa BP Bunge, fornecedora da Coca-Cola e controlada por Bunge e British Petroleum.
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Invasão de áreas de preservação, expulsão de comunidades tradicionais, poluição de manguezais, violência de gênero, ameaça, cárcere privado, tortura:
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Envolvida nos crimes acima, a Usina Trapiche é uma das principais fornecedoras da Coca-Cola na região Nordeste do Brasil.
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Crimes ambientais e morte de trabalhadores:
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Usina Barralcool, que está entre os maiores fornecedores da Coca-Cola na região Sudeste.
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Trabalho escravo:
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Ocorrência registrada na cadeia produtiva da Usina Itamarati, uma das principais fornecedoras de açúcar para a Coca-Cola no Brasil.
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Grilagem de terras, queimadas, fraudes tributárias, invasão de terras indígenas e expulsão de comunidades:
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Ocorrências identificadas na cadeia produtiva da Usina Jayoro, fornecedora do açúcar usado para a fabricação do xarope da Coca-Cola.
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Fraude tributária:
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Ocorrências registradas na cadeia produtiva da Recofarma e da Femsa, empresas do Grupo Coca-Cola;
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A Femsa também está envolvida em trabalho escravo em suas próprias unidades.
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Manobras fiscais:
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Estima-se em R$ 3 bilhões anuais o total que a cadeia produtiva da Coca-Cola deixa de pagar de impostos a cada ano, graças a artimanhas tributárias e manobras fiscais realizadas por empresas do grupo.
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As ocorrências listadas acima estão detalhadas ao longo do livro, com as respectivas fontes onde foram obtidas e, posteriormente, checadas. Acesse “O sabor do açúcar” em: bit.ly/LivroSaborDoAcucar