Cozinheira prepara açaí e peixe para refeição em Belém (PA): delícias que levam ao prato sabores, cultura e ancestralidade
COP30 terá insumos da agricultura familiar, pequenos produtores e culinária regional do Pará e da Amazônia (foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará)

O governo federal anunciou que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) utilizará insumos da agricultura familiar e de pequenos produtores para a produção das refeições oferecidas no evento, em Belém (PA), em novembro de 2025. O objetivo é ter “comida saudável, com preço justo e ambientalmente correto”, diz a Secretaria Extraordinária para COP30 da Casa Civil (Secop/CC) do Governo do Brasil. 

A Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável avalia que esse anúncio responde a uma demanda apresentada pela sociedade civil: de que a alimentação durante o evento seja oriunda da agricultura familiar, da produção agroecológica e da sociobiodiversidade amazônica e do Norte do país, além de seguir as diretrizes e recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde.

No final do ano passado, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) já havia apresentado um ofício à Presidência da República fazendo essa recomendação para a alimentação da COP30. 

O documento destaca que é necessário estabelecer normativas e processos de formação para assegurar que os estabelecimentos que vão oferecer ou comercializar alimentos durante a COP30 recebam assistência técnica e qualificação adequadas para as aquisições de alimentos e produtos da agricultura familiar, da produção agroecológica e da sociobiodiversidade, bem como adotarem as recomendações para uma alimentação saudável e adequada. 

Além disso, o Consea recomenda que seja estabelecido um processo participativo e sem conflitos de interesse, para incluir iniciativas locais e regionais de produção de alimentos e preparação de refeições que valorizem a cultura alimentar, protejam e promovam a sociobiodiversidade, garantam a participação de agricultores familiares e de suas organizações, os povos indígenas e os povos e comunidades tradicionais, o respeito à cultura alimentar, além de promover os saberes e fazeres culinários regionais. 

“A oferta desses alimentos na COP30 é estratégica para apresentar ao mundo a diversidade culinária e o patrimônio cultural alimentar brasileiro, além de mostrar que é possível preservar a floresta com dignidade e saúde e que outros sistemas alimentares são possíveis”, declara o Núcleo Gestor da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável. 

Segundo o comunicado do governo federal, será oferecido um cardápio internacional, como é tradicional nas conferências, e haverá restaurantes e quiosques com opções veganas, vegetarianas, sem glúten, sem lactose, alimentos permitidos pela lei Islâmica (halal) e também alimentos permitidos pelo judaísmo (kosher). A gestão brasileira trabalha para que os insumos para esses pratos também possam ser oriundos da agricultura familiar.

De acordo com o gerente de projeto da Secop/CC, Vitor Arroyo, o evento deve destacar opções da culinária paraense, a fim de conectar o público internacional com a cultura e os produtores locais. “Os alimentos na COP por vezes são vistos como algo apenas para matar a fome, para continuar dando energia. Mas, na verdade, está muito vinculado com o clima, com o trabalho na terra, com tudo que isso significa para formação social também”, defende, no comunicado do governo. 

Agricultura familiar na alimentação brasileira

A agricultura familiar é um modelo de produção agrícola baseado em pequenas propriedades rurais, onde a maior parte da mão de obra provém da própria família. De acordo com o mais recente Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2017, existiam aproximadamente 3,9 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar no país, representando 77% do total de propriedades agrícolas.

O setor emprega mais de 10 milhões de pessoas, representando 67% dos postos de trabalho no campo. Segundo a edição 2024 do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial, a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos no Brasil.

De acordo com a Secretaria de Agricultura Familiar do Estado do Pará (Seaf/PA), o estado-sede da COP30 possui aproximadamente 300 mil agricultores familiares, responsáveis por grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos paraenses. A produção agrícola familiar no Pará é diversificada e inclui cultivos como mandioca, açaí, abacaxi, coco, pimenta-do-reino e castanha-do-pará.

Agricultura familiar e mudança do clima

A agricultura familiar colabora com a mitigação das mudanças climáticas com práticas sustentáveis que reduzem as emissões de gases de efeito estufa e promovem a resiliência dos ecossistemas, como o uso de agroecologia e sistemas agroflorestais que integram culturas agrícolas com árvores e vegetação nativa. 

Frequentemente, emprega técnicas de manejo sustentável dos recursos naturais, como o uso eficiente da água e a conservação do solo. Essas práticas diminuem a necessidade de insumos externos, como fertilizantes químicos e pesticidas, cuja produção e aplicação estão associadas a emissões significativas de gases de efeito estufa.

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