28/11/2025 - Blog Notícias Clima Alimentação Saúde

Da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável
Criada durante a ECO-92, a Cúpula dos Povos se firmou, ao longo de três décadas, como o principal espaço de articulação da sociedade civil durante as Conferências do Clima da ONU. Em contraponto às negociações oficiais das COPs, frequentemente permeada por interesses corporativos que influenciam as representações governamentais, a Cúpula reúne movimentos sociais, povos indígenas, comunidades tradicionais, organizações ambientais, organizações de juventude, trabalhadores urbanos e rurais, além de pesquisadores de vários países. Esse ano, durante a COP30 realizada em Belém, o evento ganhou uma dimensão histórica ao colocar a Amazônia e seus povos no centro do debate global sobre justiça climática.
Em março de 2023, movimentos sociais de todo o mundo iniciaram a construção da edição “Rumo à COP30”, lançando um primeiro Manifesto com as intenções para a conferência. Foram muitas reuniões preparatórias e encontros temáticos pré-COP, inclusive durante a COP28 em Dubai, e em diversos territórios amazônicos. O processo resultou em uma mobilização inédita, com o “Manifesto da Cúpula dos Povos”, documento assinado por mais de mil organizações de 60 países, explicitando a urgência coletiva por justiça climática real, liderada pelos povos mais afetados e marginalizados, contra um sistema que prioriza lucro sobre vida.
Já ao término da Cúpula, que contou com a participação de mais de 70 mil pessoas, foi apresentada a declaração final, em que consta, dentre os pontos centrais, a declaração afirma que o modo de produção capitalista, guiado pelas grandes corporações transnacionais (as Big Agro e Big Food) e pelo capital financeiro, é a causa estrutural do colapso climático em curso. Setores como mineração, agronegócio, energia, indústria bélica e Big Techs são apontados como protagonistas da destruição ambiental e do aprofundamento das desigualdades.
A declaração destaca ainda que as populações mais afetadas pelos eventos climáticos extremos como povos indígenas, comunidades negras, ribeirinhas, camponesas e periféricas são justamente aquelas que menos contribuíram para a emergência climática. O texto denuncia o racismo ambiental e a ausência de políticas públicas de adaptação, reparação e proteção territorial.
Outro eixo fundamental é a crítica às chamadas falsas soluções climáticas, como mecanismos de compensação florestal, créditos de carbono (assunto que já abordamos anteriormente) e fundos de financiamento sem controle social, que, segundo a Cúpula, maquiam as causas estruturais da crise enquanto permitem a continuidade da exploração e da financeirização da natureza. O documento também aponta o fracasso do atual modelo de multilateralismo e cobra uma transição energética justa, soberana e popular, que inclua o fim da exploração e mecanismos globais de não proliferação de combustíveis fósseis.
A declaração ainda reivindica o fortalecimento de instrumentos internacionais de proteção aos defensores de direitos humanos e dos ecossistemas, a responsabilização jurídica de empresas transnacionais e a adoção da Declaração dos Direitos Camponeses (UNDROP) como base para uma governança climática centrada nos povos e nos territórios.
Marcha pelo Clima reúne 70 mil pessoas em Belém
No sábado, 15 de novembro, a força política da Cúpula dos Povos ganhou as ruas da capital paraense com a Marcha pelo Clima, considerada uma das maiores mobilizações climáticas já realizadas no Brasil. Segundo os organizadores, cerca de 70 mil pessoas participaram do ato, que percorreu 4,5 quilômetros entre o Mercado de São Brás e a Aldeia Cabana.
A marcha contou com a presença de povos indígenas, movimentos da Amazônia, organizações internacionais, ativistas climáticos e representantes da COP das Baixadas. O ato denunciou as falsas soluções e exigiu o fim da exploração de petróleo na Amazônia, além de reforçar o chamado por uma transição energética justa. Uma cobra de 30 metros produzida por 16 artistas de Santarém se tornou símbolo da manifestação, cobrando “Financiamento direto para quem cuida da floresta”.
A Cúpula e a COP30
A força da Cúpula dos Povos reforçou a expectativa sobre os resultados finais da COP30. O documento entregue ao Presidente da COP, Embaixador André Corrêa do Lago, foi explícito sobre a urgência do enfrentamento das raízes da crise climática, a superação da dependência de combustíveis fósseis e a proteção dos territórios e de seus defensores. Para as organizações envolvidas, qualquer avanço real depende do reconhecimento do papel central dos povos da Amazônia e de outras regiões vulnerabilizadas na construção de soluções efetivas e justas.
Esse documento também aponta para a urgência de que os compromissos deixem de ser declarações vazias e que os governos respondam às demandas das populações mais afetadas pela crise climática e pelo racismo ambiental. O que se aprova na COP impacta diretamente o cotidiano de todas/os nós: o preço dos alimentos, o acesso à água, o desmatamento, as queimadas, a qualidade de vida, do ar e a proteção dos territórios.
Nas próximas postagens, vamos falar sobre os resultados da COP30 e discutir as possibilidades de avanços até o fim do mandato da atual presidência brasileira, em novembro de 2026. O foco será nas chances de promover mudanças concretas e criar mecanismos que garantam a implementação de medidas de adaptação com metas claras, respeitando os diferentes biomas e ouvindo as vozes das periferias urbanas e de outros territórios vulnerabilizados.
Fontes:
Brasil de Fato — Cúpula dos Povos: mobilização popular histórica tensiona correlação de forças na COP30
https://share.google/UuKR6yWeyusF6o5kh
G1 — Marcha global indígena reúne povos tradicionais e ativistas no início da 2ª semana da COP30
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2025/11/17/marcha-global-indigena-reune-povos-tradicionais-e-ativistas-no-inicio-da-2a-semana-da-cop-30-em-belem.ghtml
Agência Brasil — Marcha pelo clima reúne 70 mil e leva força amazônica às ruas de Belém: https://agenciabrasil.ebc.com.br/meio-ambiente/noticia/2025-11/marcha-pelo-clima-reune-70-mil-e-leva-forca-amazonica-ruas-de-belem
