Frutose artificial, como o xarope de milho e o açúcar de cana-de-açúcar, é muito utilizada para adoçar ultraprocessados, como sucos de caixinha, refrigerantes, geléias e biscoitos – Foto: Freepik

A frutose é um açúcar naturalmente encontrado em vegetais e frutas, que chega ao organismo junto com fibras, vitaminas e minerais. É um monossacarídeo (açúcar simples)  que nos fornece energia. 

Já a versão sintetizada dessa substância, como o xarope de milho e o açúcar de cana-de-açúcar, é muito utilizada para adoçar ultraprocessados, como sucos de caixinha, refrigerantes, geléias e biscoitos, e pode ter efeitos bastante nocivos. 

É o que mostra um novo estudo publicado na revista “Molecular Metabolism” e que teve apoio da Fapesp. 

Pesquisadores da Université Laval (ULaval), do Canadá, e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) chegaram à conclusão que, se consumida em demasia, a frutose artificial altera sensivelmente o modo como o intestino responde à presença de glicose, aumentando o seu potencial de absorção desse açúcar. 

Essa situação acaba comprometendo o controle da glicemia (quantidade de açúcar no sangue), levando a um possível cenário de diabetes tipo 2 e doença hepática gordurosa. 

Segundo os cientistas, esses efeitos são observados até mesmo antes de se confirmar a intolerância à glicose e o acúmulo de gordura no fígado. A modificação da capacidade de absorção intestinal, associada à disfunção metabólica, é o início do problema. 

Como foi o estudo

No estudo, camundongos foram alimentados durante sete semanas com uma dieta em que 8,5% da energia vinha da frutose – proporção considerada elevada, mas ainda próxima do consumo humano médio. 

Em apenas três dias, os animais já apresentavam um aumento na capacidade do intestino de absorver glicose, antes mesmo do surgimento da intolerância à glicose. Após quatro semanas, a glicose já não era eficientemente removida do sangue e, ao fim do estudo, observou-se acúmulo de gordura no fígado – condição que pode evoluir para quadros mais graves, como a cirrose.

Curiosamente, mesmo com esses efeitos adversos, os camundongos não desenvolveram resistência à insulina nos músculos ou no tecido adiposo, indicando que o descontrole glicêmico inicial ocorre por alterações no intestino, e não por falha na resposta insulínica periférica.

A explicação para esse fenômeno pode estar na ação de um hormônio chamado GLP-2, produzido por células do intestino. Os pesquisadores constataram que o consumo excessivo de frutose eleva os níveis circulantes de GLP-2, substância que estimula o crescimento da superfície intestinal e o aumento da absorção de nutrientes. Ao bloquear o receptor desse hormônio (Glp2r) com uma droga, foi possível impedir o aumento da absorção de glicose, evitando tanto a intolerância quanto o acúmulo de gordura no fígado.

No entanto, a estratégia de bloqueio do Glp2r não é facilmente aplicável a humanos, pois esse mesmo receptor está envolvido na proteção da barreira intestinal contra infecções e inflamações. Isso reforça a complexidade do papel do GLP-2 na saúde metabólica.

“Mostramos que o aumento da absorção de glicose pelo intestino ocorre antes da intolerância à glicose. Isso abre caminho para o uso desse mecanismo como um biomarcador precoce”, disse Fernando Forato Anhê, professor da Faculdade de Medicina da ULaval e coordenador da investigação. “O teste de absorção intestinal de glicose é barato, seguro e já utilizado em humanos – bastaria aplicá-lo em um novo contexto.”

Frutas são aliadas

De acordo com Paulo H. Evangelista-Silva, doutorando no Programa de Pós-Graduação do Departamento de Biologia Funcional e Molecular do ICB-USP e um dos pesquisadores, os resultados do estudo se referem ao consumo de frutose adicionada a alimentos ultraprocessados. “Frutas in natura são ricas em fibras, que ajudam a retardar a absorção de glicose e aumentam a saciedade. Além disso, contêm nutrientes benéficos para a saúde intestinal e hepática”, explicou.

A pobreza nutricional dos ultraprocessados, com baixo teor de fibras e altos níveis de açúcares adicionados – como o xarope de milho e o açúcar de cana –, sobrecarrega o organismo. 

Evangelista-Silva recomenda priorizar alimentos in natura, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Fontes: https://agencia.fapesp.br/frutose-em-excesso-altera-intestino-e-aumenta-risco-de-diabetes-tipo-2-e-doencas-no-figado/54380

https://lorena.r7.com/categoria/saude/Frutose-artificial-em-excesso-causa-diabetes-tipo-2-e-doencas-no-figado

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