A Big Food e o Big Agro, responsáveis por grande parte das emissões de gases do efeito estufa do setor, tentam se posicionar como protagonistas das soluções. O problema? Suas propostas não mexem nas estruturas que causam a crise climática e social

Da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável

A COP30 é o espaço para os governos traçarem um caminho decisivo para a ação climática global, mas evidencia também as contradições na arena dos sistemas alimentares. As gigantes da indústria de ultraprocessados e do agronegócio, conhecidas como Big Food e Big Agro, que são as causadoras de grande parte dos problemas climáticos, posicionam-se no evento como a solução para essas questões. Destacando propostas que não tocam em questões estruturais, tentam moldar a agenda e direcionar as decisões de acordo com seus interesses.

Os caminhos defendidos por esses grupos são aqueles que apresentam menores impactos em seus negócios e, portanto, não modificam as estruturas da produção ao consumo atuais, tendo praticamente nenhum efeito para solucionar a crise climática e social. A principal aposta da Big Food e do Big Agro é favorecer medidas voluntárias, o mercado de carbono e métricas baseadas em tecnologias de aumento de produtividade — algumas necessárias, mas soluções simplistas e insuficientes e, na maior parte, que ampliam a exclusão –  para um desafio que exige transformar profundamente nossos modos de produção e consumo, não apenas na alimentação, mas em todo o sistema produtivo.

Enquanto países do Sul Global se organizam para defender um financiamento justo e movimentos sociais pautam propostas que garantam a alimentação como um direito e abordagens agroecológicas baseadas em conhecimento das comunidades tradicionais, equidade e agricultura familiar, a Big Food e o Big Agro movimentam-se em diferentes esferas para influenciar e participar das decisões para que a lógica do sistema permaneça sem mudanças estruturais. O site https://www.desmog.com/ mapeou e ilustrou a imensa capilaridade desses setores, representada por associações comerciais e grupos que atuam para influenciar pesquisas, opinião pública e sociedade, chegando às COPs por meio de pavilhões temáticos e até junto a órgãos oficiais de governos. Dessa maneira, têm acesso a espaços privilegiados, desde os eventos paralelos até as negociações oficiais.  

A Zona Azul é a famosa área da COP destinada às negociações. Espaço restrito aos representantes de países, organizações observadoras, e onde estão infiltradas as corporações descritas na matéria. Mas, a cerca de oito quilômetros dessa área, na Universidade Federal do Pará, aconteceu a Cúpula dos Povos, que reuniu milhares de pessoas de organizações nacionais e internacionais, de movimentos sociais, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, agricultores familiares e camponeses. A carta final da Cúpula rechaçou as falsas soluções apresentadas pelas corporações e seus apoiadores, e ofereceu  um contraponto, propondo caminhos que viabilizam uma alteração profunda nos sistemas alimentares. 

A contrastante diversidade e agenda de propostas entre a Cúpula e a Zona Azul  evidencia a urgência do fortalecimento da participação social em locais de tomada de decisões globais que podem mudar  os rumos do planeta diante da crise climática. Apenas com o verdadeiro comprometimento com justiça climática e alimentar será possível encontrar soluções que coloquem a vida, e não os lucros, no centro do debate.

A plataforma investigativa DeSmog, fundada no Canadá, tem o objetivo de investigar e expor campanhas de desinformação sobre mudanças climáticas. Link para a matéria completa, em inglês: https://www.desmog.com/2025/11/10/mapped-big-foods-routes-to-influence-at-cop30.