Reportagem mostra os bastidores do lobby em favor da venda de um produto associado
ao desenvolvimento da Doença de Parkinson

Sessenta e seis dias. Foram necessários dois meses para que o rolo compressor do lobby da indústria de agrotóxicos conseguisse reverter uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que levou quase 10 anos para ser tomada. Trata-se da suspensão das vendas de paraquete, um agrotóxico ligado ao aumento da incidência da doença de Parkinson e que leva à morte em caso de intoxicação grave. A suspensão foi solicitada à Anvisa em 2008 em parecer emitido pela Fiocruz e acatada pela Agência em setembro de 2017.

A pressão dos fabricantes de paraquete é descrita em reportagem publicada recentemente pelo portal The Intercept Brasil. De acordo com o relato, apenas 13 dias após a publicação da decisão – que bania quase que imediatamente o produto do mercado brasileiro – foi recebida na Anvisa uma comitiva liderada pela empresa Syngenta, que domina a produção da base do paraquete no Brasil.

O que se sucede a esse primeiro encontro são seguidas reuniões, articuladas pelas empresas interessadas reunidas na forma de Sindicatos e Confederações. Até mesmo o Ministério da Agricultura articulou a liberação do agrotóxico, segundo a reportagem. Até que, em 27 de novembro de 2017, a Anvisa afrouxou as regras e postergou para 2020 a retirada do paraquete do mercado. Até lá, a indústria segue pressionando por regras mais flexíveis.

Em entrevista ao The Intercept, o pesquisador Luis Cláudio Meirelles, especialista da Fiocruz e responsável pelo pedido de retirada do mercado do paraquete, é enfático. “O paraquate é perigosíssimo. Deveria ser banido imediatamente, e não num prazo de três anos, com possibilidade da indústria tentar reveter a proibição até lá.”

A Suíça, onde fica a sede da Syngenta, baniu o paraquate nos anos 80. A União Europeia, em 2007. China e Inglaterra produzem o agrotóxico, mas apenas para exportação. Uma pesquisa de 2011 do Instituto Nacional de Ciência da Saúde Ambiental dos Estados Unidos, em parceria com o Instituto e Centro Clínico do Parkinson, mostrou que lidar com agrotóxicos contendo paraquate aumentou em duas vezes a incidência de Parkinson em agricultores.

Enquanto isso, no Brasil, há 27 produtos à base de paraquete.

Leia aqui a íntegra da reportagem do The Intercep Brasil sobre a pressão da indústria de agrotóxicos.

 

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1 Comment

  • bydanilo eichelberger
    Posted 17/03/2019 23:22 0Likes

    Isso é Brasil… veneno e mais veneno.Tudo pela ganância. Pelas nossas crianças, vamos parar com isso…

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