O “Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação” acaba de ser lançado pela ACT Promoção da Saúde e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor-Idec. Em linguagem acessível, ilustrada com gráficos explicativos, a publicação revela a influência da indústria sobre parlamentares, pesquisadores, meios de comunicação e a população em geral. Os dados são respaldados em pesquisas científicas destacados na extensa lista de referências bibliográficas.

A partir de oito casos, o documento expõe expedientes utilizados sistematicamente para alterar, postergar ou anular políticas públicas que, de alguma maneira, ameacem o lucro da indústria, mesmo que a implementação dessas medidas impacte positivamente a qualidade de vida de toda a população.

Ao chamar atenção para os ataques dos gigantes da alimentação contra a saúde pública, a ACT e o Idec esperam esclarecer a sociedade e, assim, discutir saídas para neutralizar a situação. O dossiê, no entanto, também nos ajuda a entender de que forma estamos inseridos em um sistema alimentar que, paradoxalmente, promove fome e obesidade, além de contribuir para acelerar as mudanças climáticas.

Entre os exemplos levantados pelo estudo, se destacam histórias de concessão de privilégios, como os incentivos fiscais para a produção de alimentos que fazem mal à saúde. Evidências de obstrução de informação, tal e qual as manobras para impedir os selos de advertência nos rótulos dos ultraprocessados. Ou, ainda, a promoção de discursos que tentam reduzir problemas de saúde pública à mera questão de mudança de hábito.

Em algumas situações, como na operação para desqualificar e boicotar o Guia Alimentar para a População Brasileira, fica evidente o apoio de políticos e pesquisadores financiados pelo setor. Já durante os piores momentos da pandemia de Covid-19, notamos o surgimento de ações de autopromoção disfarçadas de gestos de filantropia sempre com ampla repercussão na mídia.

Além de trazer à tona evidências da interferência da indústria de alimentos, o Dossiê Big Food aponta saídas, como destaca no prefácio Inês Rugani, professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ):

“Ela (a publicação) também traz conteúdo importante sobre mecanismos para prevenir e lidar com conflitos de interesses na área de alimentação e nutrição.”

Angélica Brum

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