Por: Comitê Gestor da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável

Informação é como água: se estiver contaminada, não serve. O lembrete foi dado pela nutricionista Márcia Terra em texto recente publicado na revista Saúde. Márcia é membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Nutrição e Alimentação (SBAN), uma entidade que informa sobre saúde e bem-estar e que tem entre seus apoiadores empresas como Coca-Cola, Danone, Nestlé, Herbalife, Cargill e outras. Uma contradição que faz o lembrete no início deste texto soar como ironia.

Terra “alerta”, em seu texto, para os perigos das notícias falsas que circulam mitos e mentiras sobre nutrição e coloca no mesmo nível de enganação o ativismo de entidades que lutam pelo direito à saúde e à alimentação adequada e saudável . “(…) reforço o pedido para você prestar atenção ao tipo de mensagem sobre alimentação que vem sendo veiculada no Brasil. Há muitas pessoas e grupos ativistas tentando nos convencer sobre o que não devemos comer. E, pior, usando política pública para nos fazer viver segundo suas opiniões.”

Não sabemos se por desconhecimento ou má-fé, Terra ignora os avanços científicos que apontam para as relações cada vez mais claras entre produtos ultraprocessados e sobrepeso. Este, por sua vez, é um dos principais fatores de risco para um hall de doenças mortais, incluindo o câncer. Sob esse ponto de vista, o da saúde coletiva e do bem-estar de todos, é possível afirmar, sim, que existem alimentos que não devem ser consumidos.

Em se tratando de alimentos, e considerando as implicações negativas para a saúde – em especial daqueles com altos teores de açúcar, gorduras e sódio – é inegável que a indústria de alimentos tenha como principal objetivo vender seus produtos. Para isso, é necessária a construção de uma narrativa onde qualquer iniciativa que crie ambientes alimentares mais saudáveis ou que garanta o acesso a informações cada vez mais transparentes, auxiliando os consumidores nesse processo, seja vista como intromissão.

A pergunta que tem que ser feita é: intromissão a serviço de quem? Certamente não é do consumidor que, diante de uma tabela nutricional difícil de ver, compreender e calcular, continua desinformado sobre o que come. Afinal, como nos lembra Terra, informação que não acrescenta, você deixa de lado.

O que tem que ficar claro para todos nós é que não se trata de uma questão de quem está de qual lado, mas sim de quem defende quais interesses. Entidades da sociedade civil e institutos de pesquisa das universidades que atuam em saúde o fazem sob a perspectiva do interesse coletivo e da defesa de direitos sociais, partindo de evidências científicas e com legitimidade para falar desse local. Temos que ficar atentos enquanto leitores e cidadãos, em se tratando das nossas escolhas e da nossa saúde, se estamos sendo cerceados por interesses econômicos ou esclarecidos pelos interesses coletivos.                 

Por fim, registro que o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e a Associação Brasileira de Alimentação e Nutrição (ASBRAN) têm um entendimento extremamente claro sobre o que configura o conflito de interesses e suas implicações para entidades do setor. Tanto é que o Conbran (Congresso Brasileiro de Nutrição), o maior congresso sobre o tema no Brasil, onde circulam aproximadamente 5 mil pessoas entre profissionais da área da saúde e população, acontecerá pela segunda vez seguindo a política do não conflito de interesses, sem o patrocínio de indústrias de alimentos, como aquelas que apoiam a SBAN.

Artigo elaborado pelo Comitê Gestor da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável.

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1 Comment

  • byMaria Antonia
    Posted 15/03/2018 09:27 0Likes

    Excelente texto e muito esclarecedor. Vamos ficar atentos.

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