Entidades defendem um sistema completamente novo para empacotar os produtos processados e ultraprocessados

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Um dos principais problemas relacionados à má alimentação, a obesidade, continua aumentando seu percentual no Brasil à razão de 1% ao ano. Nos últimos 35 anos, o número de obesos cresceu quase cinco vezes entre os homens e mais do que duplicou entre as mulheres.

Essa questão é o foco de uma campanha Intitulada “Você tem o direito de saber o que come”. Seu objetivo é atacar o que considera um dos fatores que mais contribuem para a expansão da obesidade: a rotulagem inadequada de produtos alimentícios processados e ultraprocessados, que muitas vezes omitem informações ou as apresentam de forma pouco clara.

A iniciativa é da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, que reúne entidades como Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), ACT Promoção da Saúde, Asbran (Associação Brasileira de Nutrição) e Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Para o grupo, é preocupante a tendência no país de se substituir componentes tradicionais da mesa brasileira, como feijão, arroz, legumes e frutas, por itens como refrigerantes, biscoitos recheados, bebidas açucaradas, salgadinhos e macarrão instantâneo.

O que (não) dizem as embalagens

Soluções para esse problema, como campanhas de conscientização, que incentivam um maior consumo de frutas e hortaliças, ou capacitação de profissionais que podem orientar o público, não tiveram resposta significativa, de acordo com a Aliança.

Ao mesmo tempo, muitos conteúdos na mídia sobre alimentação saudável tendem a colocar o ônus da responsabilidade sobre o indivíduo, como se a questão fosse apenas escolher entre comer de forma saudável ou não.

“Essa abordagem que existe é muito de culpar o indivíduo sem olhar para outras determinantes do problema”, disse Ana Paula Bortoletto, doutora em Nutrição em Saúde Pública e pesquisadora do Idec ao Nexo.

Para a campanha, informações sobre ingredientes que podem ser prejudiciais à saúde, se consumidos em altas quantidade, não são evidentes o bastante para o consumidor. Um salgadinho ou refrigerante, por exemplo, não tem atualmente obrigação legal de avisar o comprador sobre isso.Além disso, há uma propensão maior hoje de se disfarçar itens problemáticos com chamarizes na embalagem do tipo “mais fibras”, “menos açúcar”, “integral”, entre outros. Isso dá a esses alimentos uma roupagem de saudável que nem sempre corresponde à realidade.

“Quando você olha a composição desses produtos eles continuam com o perfil não saudável. Às vezes, coloca mais fibras, mas mantém o açúcar elevado; tira a gordura, mas continua alto em sódio”, afirmou Bortoletto. “A lógica é mais de uma redução de danos”.

Quais as propostas da campanha

As entidades propõem um sistema completamente novo para as embalagens de produtos processados e ultraprocessados. Estes deverão incluir selos do Ministério da Saúde em destaque que alertarão sobre a presença de conteúdo alto de açúcar, gordura e sódio, e presença de gordura trans e de adoçante.

O sistema é baseado em um modelo já utilizado no Chile, que se provou bem-sucedido, de acordo com estudos realizados naquele país, de acordo com o Idec.

A campanha também quer que a tabela de nutrientes e a lista de ingredientes passem a aparecer com maior contraste visual e letras em tamanho mínimo para a leitura. Na tabela, a informação deixaria de usar como quantidade de referência a porção, adotando um novo padrão de 100 gramas, o que permitiria a comparação com outros produtos. “Hoje, a indústria quer dizer que tem menos caloria então diminui o tamanho da porção”, explicou Bortoletto.

A informação sobre a quantidade de açúcar, que hoje é opcional para os fabricantes, passaria a ser obrigatória, segundo as sugestões das entidades. Em produtos usados em culinária, como sal, açúcar e óleo de cozinha, haveria orientação recomendando seu uso moderado.

Além disso, todos os alimentos que ganhassem o selo de advertência teriam proibida a utilização de táticas mercadológicas visando atrair crianças, como a inclusão de personagens, desenhos ou brindes. Mensagens como “rico em fibras” e “zero açúcar”, que passam uma ideia errônea de produto saudável, também ficariam vetadas.

Todas essas sugestões foram enviadas à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que está em processo de discussão de novas regras para embalagens. A indústria alimentícia, por meio de sua entidade Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), também tem suas propostas. Uma delas, segundo Bortoletto, é a utilização de um “semáforo”, com as cores verde, amarelo e vermelho indicando níveis de determinados ingredientes. Para a representante do Idec, a solução não traria clareza para o consumidor.

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