Música tem como objetivo informar e alertar sobre a importância da alimentação saudável no ambiente escolar 

Foto: Istock

Quem não conhece a música Trem-Bala da cantora Ana Vilela? Pensando na força da letra cantada por crianças e adultos, Tânia Bicalho, nutricionista e membro do Núcleo Minas Gerais da Aliança, fez uma paródia para alertar sobre a importância da alimentação saudável nas escolas mineiras. Em junho de 2019, o decreto que definia as regras para a comercialização de alimentos não saudáveis nas escolas públicas e privadas de Minas Gerais foi suspenso por 240 dias pelo governador Romeu Zema.

De acordo com o decreto, a venda de alimentos com alto teor de calorias, gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal ou com poucos nutrientes estaria vetada nas escolas do estado. A proibição se estendia a serviços próprios da escola ou terceirizados, como cantinas e lanchonetes, e vendedores ambulantes que ficam na porta das escolas.

Com a suspensão do decreto, o Governo de Minas adia ainda mais uma espera que já dura 15 anos. Em um país com níveis alarmantes de sobrepeso e obesidade infantil, a educação alimentar deve estar acompanhada de medidas do poder público que incentivem a criação de ambientes alimentares realmente saudáveis, seja para os alimentos ofertados na rede pública seja para o que é comercializado nas cantinas da rede privada. “Uai, Zema. Por que guloseimas quer incentivar?”, pergunta a nutricionista e cantora.

Tânia Bicalho é a criadora da MPN – Música Popular Nutritiva. No seu canal no Youtube, nas escolas e eventos pelo Brasil, a nutricionista faz o que mais gosta, que é sensibilizar sobre a importância da comida de verdade de forma leve e lúdica com a ajuda da música.

Como surgiu a Música Popular Nutritiva – MPN?

Como a música sempre me regeu, em 2011 me formei em Nutrição e meu TCC foi sobre “mudança do ritmo de vida a partir da alimentação/nutrição”.  Gravei  um  CD, apoiado pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura (Juiz de Fora)  e as músicas tratavam de “resgate de comida de verdade”, ou seja, valorização de  alimentos  naturais e preparações culinárias simples,  porém com alto valor nutritivo, saborosas  e  saudáveis.  Dois dias após apresentar meu TCC, fui convidada para dar palestra na UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas) e de lá para cá não parei mais. O CD MPN teve muitos desdobramentos e hoje é meu estilo musical. Eu sempre trabalhei com MPB e hoje atuo levando palestras-show, com muita  MPN,  para pessoas de todas as idades e classes  sociais.

Como você percebe a importância do uso de outras linguagens, expressões e ferramentas (como a música) para sensibilizar as crianças e os adultos para a alimentação saudável? Como a arte pode ajudar?

Por se tratar de uma linguagem universal a música tem poder de aproximar as pessoas. A arte quebra a monotonia e pode oferecer informações de maneira  criativa e lúdica. Neste sentido, a comunicação  artística  é  excelente  ferramenta de trabalho para sensibilizar as pessoas sobre a importância de se ter uma alimentação variada e equilibrada.

Como surgiu a ideia de criar a paródia Uai Zema em apoio ao decreto 47557? 

Quando tive conhecimento da suspensão do decreto e seus desdobramentos, conversei com outros integrantes do Núcleo Minas Gerais da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável e decidi fazer a paródia. Minha inspiração surgiu de minha necessidade de me expressar e me posicionar em relação ao decreto. Como de costume, o fiz a partir da música.

Eu acredito que os vendedores (que trabalham no entorno das escolas) e cantineiros  precisam ter acesso à educação alimentar e nutricional. Eu gostaria muito que o governador apoiasse e viabilizasse a educação  alimentar e nutricional para todos.  O governo se preocupa tanto com finanças e no entanto parece se esquecer que promover saúde culmina em evitar internações e outros gastos  para o sistema público de saúde.

Você faz muitos trabalhos em escolas públicas e privadas. Como você vê a questão das cantinas e das escolhas alimentares dos alunos?

Em Juiz de Fora, onde moro, pouquíssimas cantinas se preocupam em fornecer alimentação variada e saudável, inclusive cantinas de  universidades públicas e particulares. Por isto insisto que a educação alimentar e nutricional deveria ser prioritária, ensinada em escolas públicas, particulares e viabilizada, no formato de oficinas, por exemplo,  para  toda população, principalmente vendedores ambulantes e cantineiros.

O ambiente alimentar influencia estas escolhas?

Com toda certeza. Percebo  que muitos alunos compram alimentos processados e/ou ultraprocessados por falta de opção. As indústrias alimentícias geram empregos, portanto também são importantes para a economia de nosso país. Por isso defendo o equilíbrio, ou seja, a alimentação natural, variada e saudável precisa ser divulgada e valorizada para que as crianças entendam a história, as influências de outros países e a diversidade/riqueza de nossa cultura alimentar mineira/brasileira.  Minha luta também é pela viabilização da educação alimentar e nutricional para toda sociedade.

E no YouTube, como tem sido esta pressão sobre a infância?

A pressão é grande, pois ultraprocessados são muito valorizados e a indústria de alimentos e suplementos, ditos fitness, também está nesta bolha. Existe muita propaganda/promoção de shakes, “fórmulas mágicas” etc que prometem emagrecimento, energia, força e  saúde.  O meu trabalho é voltado para nutrição comportamental e eu valorizo a “comida de verdade”.

Como integrante do Núcleo MG da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, como você vê a importância do trabalho em rede para a promoção da alimentação saudável nas escolas?

Acho extremamente importante o trabalho em rede, pois  essa capilarização potencializa a possibilidade de conscientizar um maior número de pessoas (entre elas crianças, professores, cantineiros, funcionários das escolas e pais dos alunos) sobre a importância da alimentação saudável e  da “comida de verdade”  em nossas vidas.

 

Tags:

Deixe uma resposta