14/11/2019 - Notícias
Música tem como objetivo informar e alertar sobre a importância da alimentação saudável no ambiente escolar
Quem não conhece a música Trem-Bala da cantora Ana Vilela? Pensando na força da letra cantada por crianças e adultos, Tânia Bicalho, nutricionista e membro do Núcleo Minas Gerais da Aliança, fez uma paródia para alertar sobre a importância da alimentação saudável nas escolas mineiras. Em junho de 2019, o decreto que definia as regras para a comercialização de alimentos não saudáveis nas escolas públicas e privadas de Minas Gerais foi suspenso por 240 dias pelo governador Romeu Zema.
De acordo com o decreto, a venda de alimentos com alto teor de calorias, gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal ou com poucos nutrientes estaria vetada nas escolas do estado. A proibição se estendia a serviços próprios da escola ou terceirizados, como cantinas e lanchonetes, e vendedores ambulantes que ficam na porta das escolas.
Com a suspensão do decreto, o Governo de Minas adia ainda mais uma espera que já dura 15 anos. Em um país com níveis alarmantes de sobrepeso e obesidade infantil, a educação alimentar deve estar acompanhada de medidas do poder público que incentivem a criação de ambientes alimentares realmente saudáveis, seja para os alimentos ofertados na rede pública seja para o que é comercializado nas cantinas da rede privada. “Uai, Zema. Por que guloseimas quer incentivar?”, pergunta a nutricionista e cantora.
Tânia Bicalho é a criadora da MPN – Música Popular Nutritiva. No seu canal no Youtube, nas escolas e eventos pelo Brasil, a nutricionista faz o que mais gosta, que é sensibilizar sobre a importância da comida de verdade de forma leve e lúdica com a ajuda da música.
Como surgiu a Música Popular Nutritiva – MPN?
Como a música sempre me regeu, em 2011 me formei em Nutrição e meu TCC foi sobre “mudança do ritmo de vida a partir da alimentação/nutrição”. Gravei um CD, apoiado pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura (Juiz de Fora) e as músicas tratavam de “resgate de comida de verdade”, ou seja, valorização de alimentos naturais e preparações culinárias simples, porém com alto valor nutritivo, saborosas e saudáveis. Dois dias após apresentar meu TCC, fui convidada para dar palestra na UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas) e de lá para cá não parei mais. O CD MPN teve muitos desdobramentos e hoje é meu estilo musical. Eu sempre trabalhei com MPB e hoje atuo levando palestras-show, com muita MPN, para pessoas de todas as idades e classes sociais.
Como você percebe a importância do uso de outras linguagens, expressões e ferramentas (como a música) para sensibilizar as crianças e os adultos para a alimentação saudável? Como a arte pode ajudar?
Por se tratar de uma linguagem universal a música tem poder de aproximar as pessoas. A arte quebra a monotonia e pode oferecer informações de maneira criativa e lúdica. Neste sentido, a comunicação artística é excelente ferramenta de trabalho para sensibilizar as pessoas sobre a importância de se ter uma alimentação variada e equilibrada.
Como surgiu a ideia de criar a paródia Uai Zema em apoio ao decreto 47557?
Quando tive conhecimento da suspensão do decreto e seus desdobramentos, conversei com outros integrantes do Núcleo Minas Gerais da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável e decidi fazer a paródia. Minha inspiração surgiu de minha necessidade de me expressar e me posicionar em relação ao decreto. Como de costume, o fiz a partir da música.
Eu acredito que os vendedores (que trabalham no entorno das escolas) e cantineiros precisam ter acesso à educação alimentar e nutricional. Eu gostaria muito que o governador apoiasse e viabilizasse a educação alimentar e nutricional para todos. O governo se preocupa tanto com finanças e no entanto parece se esquecer que promover saúde culmina em evitar internações e outros gastos para o sistema público de saúde.
Você faz muitos trabalhos em escolas públicas e privadas. Como você vê a questão das cantinas e das escolhas alimentares dos alunos?
Em Juiz de Fora, onde moro, pouquíssimas cantinas se preocupam em fornecer alimentação variada e saudável, inclusive cantinas de universidades públicas e particulares. Por isto insisto que a educação alimentar e nutricional deveria ser prioritária, ensinada em escolas públicas, particulares e viabilizada, no formato de oficinas, por exemplo, para toda população, principalmente vendedores ambulantes e cantineiros.
O ambiente alimentar influencia estas escolhas?
Com toda certeza. Percebo que muitos alunos compram alimentos processados e/ou ultraprocessados por falta de opção. As indústrias alimentícias geram empregos, portanto também são importantes para a economia de nosso país. Por isso defendo o equilíbrio, ou seja, a alimentação natural, variada e saudável precisa ser divulgada e valorizada para que as crianças entendam a história, as influências de outros países e a diversidade/riqueza de nossa cultura alimentar mineira/brasileira. Minha luta também é pela viabilização da educação alimentar e nutricional para toda sociedade.
E no YouTube, como tem sido esta pressão sobre a infância?
A pressão é grande, pois ultraprocessados são muito valorizados e a indústria de alimentos e suplementos, ditos fitness, também está nesta bolha. Existe muita propaganda/promoção de shakes, “fórmulas mágicas” etc que prometem emagrecimento, energia, força e saúde. O meu trabalho é voltado para nutrição comportamental e eu valorizo a “comida de verdade”.
Como integrante do Núcleo MG da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, como você vê a importância do trabalho em rede para a promoção da alimentação saudável nas escolas?
Acho extremamente importante o trabalho em rede, pois essa capilarização potencializa a possibilidade de conscientizar um maior número de pessoas (entre elas crianças, professores, cantineiros, funcionários das escolas e pais dos alunos) sobre a importância da alimentação saudável e da “comida de verdade” em nossas vidas.